terça-feira, 9 de dezembro de 2008

CONTO DE NATAL

Era Dezembro...estava frio...muito frio, normal para a época. O Natal aproximava-se a uma velocidade galopante. As pessoas corriam de loja em loja na azáfama das compras, dos presentes. Em cada manhã quando se levantava, a tristeza invadia-lhe o rosto. Eram bem visíveis, no seu rosto, as marcas do sofrimento, da angústia...da tristeza. Não tinha dinheiro. Vivia um período muito difícil. Tinha perdido o emprego há três meses e o subsídio de desemprego ainda não tinha chegado, com todas as consequências nefastas para o seu dia a dia. A exclusão, a impotência de resolver os seus problemas, a tristeza a invadir-lhe o espírito e a bloquear-lhe a capacidade de raciocinio...a depressão. Cada vez mais pensava que o mundo ruíra à sua volta. Tudo lhe parecia perdido e, até já a esperança de melhores dias e soluções estava a desaparecer. Vivia o drama de olhar para os seus filhos, de tenra idade sem ter nada para lhes dizer de novo. Sem ter nada para lhes oferecer nesse natal. Sem ter sequer dinheiro para lhes comprar nada. Nem comida...nem presentes. Vivia na angústia de tudo estar a desmoronar-se...vivia a sensação de ter sido derrotado pela vida. Já não queria sequer sair de casa. Tinha vergonha. Vergonha de mostrar as suas fraquezas e as suas necessidades. Sempre tivera tudo. Sempre tivera uma casa com o essencial, mas farta. Viviam inclusive sem electricidade. Tinha sido cortada no mês anterior por falta de pagamento. Não tinha dinheiro. Com o passar dos dias e a aproximação ao Natal era mais visível a sua impotência para ultrapassar tudo. Era uma sensação muito estranha, muito difícil que jamais quisera viver. A mulher, reformada por invalidez, pouco poderia fazer para ajudar. Tentava pelo menos confortar com palavras, afectos. Tentava ser forte. Os amigos estavam aterefados nas suas vidas, pensava que nem tinham reparado em todo este quadro. Um dia, faltavam três dias para o Natal, acordou com um fiozinho de luz de esperança. Pensou que, por momentos, o espírito natalício poderia fazer milagres. Noutros anos e noutros natais tinha sido ele, não raras vezes, a ser solidário com os que mais necessitavam. Porventura a sua hora poderia estar a chegar. Nesse dia saiu de casa. Procurou sem saber onde e o quê desesperadamente. E voltou, para a sua casa. Ficou feliz quando os filhos radiantes lhe disseram que tinham electricidade de novo. Não percebera. Não tinha pago. Nesse instante tocaram-lhe à porta. Abriu...era o um grande amigo que estava ali acompanhado do pai, cheio de sacos, de cestos. Anda, carrega tudo para casa, foi o que conseguimos arranjar...Feliz Natal. A propósito...soube que não tinhas luz e paguei-te a conta, que tenhas mesmo um Santo e Feliz Natal. Chorou...como uma criança, de alegria por um lado, de agradecimento por outro. E, graças à solidariedade de muitas pessoas teve um Natal igual a todos os anteriores, com mesa farta e variada, presentes para os filhotes...foi mesmo Natal. Naquele dia tinha percebido bem a essência do Natal. Embebido desse espírito foi à luta e conseguiu regressar á vida activa, regressar à vida normal. Não mais esqueceu esse Natal. Não mais esqueceu o que é ser Natal, viver Natal e desejou para todos sem excepção que fosse Natal todos os dias.

* Autor: Eduardo
Fonte:http://sol.sapo.pt/blogs/eduardo1957/archive/2006/11/28/CONTO-DE-NATAL_2A00_.aspx